ser do Porto.



 Olá. Hoje, mais do que nunca, deu-me vontade de vir aqui escrever sobre isto. Tenho 27 anos. Lembro-me de ser miúda e de ainda morar com a minha mãe em Gondomar e de apanhar o 800 para a baixa. Era uma viagem de 45 minutos mas que me dava tanto gozo de fazer. Hoje, com este tempo, consigo fazer uma viagem de avião para Faro ou ir a Espanha. Mas, indo ao que vos vim aqui falar. Todos os dias os turistas vêm falar comigo e dizer-me que tenho uma cidade maravilhosa. Nada que eu já não saiba, mas é algo que sabe sempre tão bem ouvir. Ser do Porto é realmente ser diferente. É conhecer as ruas, os atalhos, os bares tradicionais escondidos da cidade e saber de que é feita a francesinha. É saber sugerir os melhores vinhos, mesmo que não gostemos (que é o meu caso).  Ser do Porto é conhecer a história da cidade, nunca esquecer o verdadeiro nome da Ponte D. Luís (Luís I) e saber a história que está por trás deste nome. Ser do Porto é orgulharmo-nos todos os dias de onde vimos, é cumprimentar desconhecidos na rua porque um olá nosso muda todo dia deles. Ser do Porto é ter sangue na guelra, dizer tudo o que pensamos sem filtro e nunca deixar que nos pisem ou que maltratem o que é nosso. Ser do Porto é todos os dias ser cumprimentado por pessoas que não conhecemos e responder da mesma forma, como se na rua estivesse a passar um amigo de longa data. Ser do Porto é conhecer o nome de todos os vizinhos e não ter medo de falar para nenhum. Ser do Porto é ajudar os velhinhos a atravessar a rua, ajudar com as compras quando já não conseguem ler o que apontam nas notas, é olhar mais para o outro do que para nós, é ajudar o próximo e chegara casa de coração cheio porque o dia foi cumprido com sucesso. Ser do Porto é andar de metro e ceder o lugar aos mais velhos, é ouvir histórias durante tantas e tantas viagens de transportes públicos. Ser do Porto é saber indicar o que visitar por aqui, é nunca virar as costas a ninguém, quer seja turista ou local. Ser do Porto é ter um coração genuinamente bonito e acima de tudo, orgulhar-se daquilo que é nosso. Pouco me importa se ando na rua e ouço falar mais inglês do que português. É sinal que o Porto está no mapa e mais do que nunca, está a ser partilhado com outras pessoas, que amam tanto esta cidade como nós, assim que aqui chegam. A cidade será para sempre de quem aqui mora. Da senhora de 80 anos que anda com a bacia na cabeça a descer a rua, da senhora que tem o seu negócio de artesanato há mais de 50 anos. Do senhor do restaurante que herdou aquilo dos avós e ainda continua com o restaurante aberto, sem nunca perder as receitas originais. É ter sempre um sorriso na cara quando por dentro os dias são de tempestade. É abraçar o próximo e saber que todos querem voltar aqui. Porque o Porto não é casa, o Porto é um sentimento maior do que tudo e do que qualquer coisa. Ser do Porto é ser genuinamente feliz.



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