dias cinzentos.

Olá. Hoje olho pela janela e apenas vejo algumas luzes, as poucas que não estão tapadas pelo nevoeiro intenso que se faz sentir lá fora. Com o confinamento, passei ainda mais tempo no meu Mundo. Dei por mim a olhar à minha volta e a apreciar tudo o que tenho dentro destas 4 paredes. Sinto-me completamente incapaz de criticar o que vivemos agora, porque dentro do meu cantinho, tenho coisas que muitas pessoas nunca tiveram durante toda a vida. Pergunto-me como estarão as as pessoas que vivem na rua, se isto não terá adiado ainda mais os seus sonhos e pergunto-me também de que forma podia aproveitar o tempo para ajudar os que mais precisam de mim, de nós. Felizmente sei que há muitas instituições que cuidam de quem mais precisa, mas sem dúvida que esta é a altura em que mais gostaria de ajudar alguém, nem que fosse apenas com uma sopa. A comida aconchega-nos e muitas vezes os que têm o frigorífico cheio, são os que têm o coração mais vazio. Nunca me importei de dar comida seja a quem for. Mesmo aos que reclamam do que damos. Há uns anos, quando trabalhava no centro do Porto, passava à saída do metro pelo mesmo senhor que já sorria para mim quando eu por ali andava. Ia sempre ao minipreço mais perto  buscar uma água e pães, e ele adorava os crioulos. Não sei agora o que é feito desse senhor, nem como estão as pessoas que vivem pelas ruas, que para mim, são os verdadeiros sobreviventes. Muitos deles têm mais para contar do que os que têm a casa cheia de bens materiais. Gosto de me sentar a ouvir histórias daqueles que cá andam há muito tempo. Gosto que me mostrem fotografias do passado, para que eu possa ser capaz de apreciar o presente e de lhe dar ainda mais valor. Como falava no início, gosto de olhar à minha volta e ver o que tenho. Talvez tenha coisas de que já não precise e por isso preparo sempre um saco com essas coisas para que alguém lhes possa dar mais uso do que eu. Acho que o pouco de muitos, pode significar o Mundo para alguém e acredito mesmo que as grandes histórias não têm necessariamente de estar escritas por sonhos cor de rosa. Gosto de histórias que falem de luta, resiliência e amor-próprio. Aprendi ao longo dos anos que as coisas não nos definem mas sim as nossas atitudes. O que tu fazes por alguém diz muito mais sobre ti, do que a roupa que vestes, ou as marcas que usas. Prefiro usar marcas que ninguém conhece, mas marcar os meus, do meu jeito, para que eles nunca se esqueçam de quem eu sou e de quem eu fui, enquanto por cá andei. O nevoeiro da minha janela não me faz esquecer o passado, ou o presente, mas faz-me acreditar que o futuro será melhor do que os dias que até aqui passaram.  Atrás de nuvens cinzentas, haverá sempre um Sol, que mais tarde ou mais cedo, sairá à rua para brilhar e nos fazer brilhar. Acreditem.

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