sobre a vida.
Dizem que a vida não é fácil. Que ao
longo do tempo nos vamos apercebendo de que nem todas as pessoas são boas e nos
querem bem. Dizem que temos de ser mais racionais, e menos emocionais, de forma
a sofrer menos. Mas, quantos de nós pomos emoção em tudo o que fazemos? Quantos
de nós nos entregamos a alguma coisa na qual acreditamos a cem por cento e no
fim percebemos que se é para fazer as coisas, a entrega tem de ser total? Dou
muito do que sou no dia-a-dia. Um dia perguntaram-se se eu era sempre assim: transparente.
Dizem que os meus olhos revelam muito do que eu sou e que o tom que falo diz
muito sobre o que estou a sentir naquele momento. Acho que todos nós somos
fáceis de decifrar em alguns momentos. Às vezes é importante observar os
detalhes das pessoas. E entender o porquê de serem assim. Ao longo destes 25
anos, já me cruzei com centenas de pessoas. Algumas parecidas comigo, outras
completamente diferentes. Mas, a verdade é que cada uma à sua maneira
acrescentou algo em mim. Alguma de certa forma ensinou-me algo com a sua forma
de ser e com a sua experiência de vida. Sou do tipo de pessoas que gosta de
sentar no sofá a ouvir as pessoas de mais idade. Acho que elas são
verdadeiramente enciclopédias, muitas das vezes esquecidas. E acredito seriamente
que muitos dos conselhos que eles nos dão, nos podem servir no futuro, em
muitos momentos da nossa vida. Gosto de ouvir histórias no geral. Seja de uma
altura em particular, como de uma fase da vida de alguém. Acho que tenho mais
paciência para ouvir os outros pessoalmente, do que ouvir por exemplo alguns
casos na televisão. Gosto de olhar as pessoas nos olhos, de observar os sinais,
os gestos e os traços do rosto quando falam. Mesmo não sendo uma pessoa de
estar muito tempo calada, sempre gostei de observar as expressões das pessoas
quando falam. Gosto de pessoas puras. Que se entregam ao momento em que estão a
falar com alguém. Não gosto de pessoas de rodeios ou que não sabem ser
directas. Gosto das coisas simples e acho que têm de ser ditas da forma que cada
história merece. Lembro-me que há uns meses atrás, antes deste maldito vírus,
um senhor no autocarro começou a falar comigo e a dizer-me que sempre sonhou
ter uma casa de serralharia. Mas como nunca o conseguiu, foi padeiro a vida
toda. Acordava às 4h da manhã todos os dias e
passou a vida a trabalhar para os outros. Mas ele foi feliz naquela altura. Mas
que não tenha conquistado o seu sonho, arranjou um trabalho e foi feliz ao
realizá-lo, mesmo que tenha trabalhado mais para os outros do que para ele mesmo.
E sabem, acho que é disso também que somos feitos. De entrega, partilhas e
dedicação. A forma como tratamos os outros mostra muito sobre aquilo que somos
e o que carregamos dentro de nós. É certo que todos somos diferentes, uns
nascem mais para umas coisas do que para outras, mas o que importa é o amor com
que fazemos as coisas por mais pequenas que elas sejam. Vale a pena dar o
melhor de nós mesmo que até ninguém vai notar. Porque quando damos o melhor de
nós, o resultado final só pode ser também o melhor.
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