chegada inesperada.




Coração (símbolo) – Wikipédia, a enciclopédia livre

Eram quase cinco da tarde. Chovia imenso lá fora. Fui à janela buscar a roupa que tinha a secar e olhei lá para baixo mais uma vez. Passado tanto tempo, vi o teu carro a entrar na garagem. Acho que bloqueei. Já nem sentia frio, nem a chuva a cair. Perguntei-me centenas de vezes o que estarias ali a fazer. Tinham passado meses desde a última que te vi. Não sei se reparaste que estava ali na janela, mas quando vim para dentro a minha preocupação foi ver o telemóvel. Tinha uma chamada não atendida. As minhas mãos tremiam, não sabia o que havia de esperar. Mas a chamada era tua e quando vi o teu nome bloqueei outra vez. Não sabia o que fazer. Não sabia sequer o que te dizer depois deste tempo todo. Mas ganhei coragem, respirei fundo e liguei-te. Disseste que achavas estranho não atender à primeira, e que devia estar ocupada com as minhas músicas. Eu sorri e disse que estava lá fora a tratar das coisas da casa. Disseste que tinhas acabado de chegar. Que no meio destes dias cinzentos, tinhas tido autorização para voar para Portugal e que a vontade que tinhas de me ver era gigante. Disse-te que hoje não era o melhor dia, porque não estava de todo preparada para estar contigo. Respondeste que íamos ter tempo e que amanhã me vinhas trazer o pequeno-almoço. Como fazíamos há uns tempos atrás. É engraçado como depois destes meses todos, continuo a ser a primeira pessoa para quem ligas quando voltas cá. Continuo a ser a pessoa que queres ver. A miúda, como tu dizes, que queres abraçar. A "piolha" a quem queres contar as tuas aventuras lá fora. Sabes que o meu orgulho não me deixa ir ter contigo a correr, mesmo que agora estejas mais perto do que nunca. Prometo que amanhã será um dia diferente. Que te vou ouvir, como sempre o fiz. Que desta vez não te vou afastar nem mandar embora. Prometo que desta vez até te levo ao aeroporto ou então embarco contigo. No meio de tantos dias maus, foste a coisa mais bonita que podia ter voltado até mim. Sabes que nunca te irei dizer isto, por isso fico-me pela escrita destas palavras. Ou então pelo silêncio. Porque contigo aprendi que o silêncio muitas vezes diz tudo. Que os nossos olhares revelam a maior transparência que existe entre nós. Amanhã já te vejo e estás avisado: ai de ti que não me tragas os meus bolos favoritos. 

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