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Lembras-te do início? De quando éramos dois miúdos e a nossa única preocupação era a de ter sempre algum assunto para falar? Sinto falta daqueles tempos em que as horas passavam tão depressa como quando adormecemos numa viagem de comboio. Tenho saudades de te ter sentado na mesma mesa do que eu e de quando um olhar nosso era capaz de decifrar todo o resto do Mundo. Com o tempo, as coisas foram mudando para os dois, de tal forma que agora o contacto entre nós é completamente inexistente. Lembro-me daqueles dias em que chovia e como nós nunca tínhamos guarda-chuva, íamos sempre para sítios diferentes, mesmo que tivéssemos de andar uma infinidade de tempo. Lembro-me como se fosse hoje das músicas que ouvíamos os dois, todos os dias, até chegar à escola. Lembro-me de te ver a sorrir e de te ouvir dizer que não há coisa melhor do que uma amizade como a nossa. As coisas mudam tanto que agora olho para trás e sei que nada do que acontecia, alguma vez se irá  voltar a repetir. Lamento que estejamos os dois em pólos tão opostos. Cada um tem a sua vida e a sua rotina e por mais que tentássemos, já nada poderia voltar até nós. Estamos os dois na faculdade e o tempo voa tanto que já estámos quase no Natal. Talvez aí te lembres de mim, se é que alguma vez te tenhas esquecido. Tenho saudades da tua família e das tardes que passávamos na casa um do outro. Mas estas saudades são aquelas saudades boas, que não fazem doer, nem deixam ferida. Tenho saudades de quando a tua mãe nos trazia aquelas bolachinhas estaladiças com chocolate quente no meio. Quero que saibas que por mais que a vida dê voltas e voltas, eu jamais me esquecerei de tudo o que, em tempos, foste capaz de fazer por mim. E tu continuas lindo, com aquele sorriso que preenche o coração e alegra o dia de qualquer pessoa. E é isso que eu adoro em ti e hei-de sempre adorar, aconteça o que acontecer, passe o tempo que passar.