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A noite já caiu, há muito tempo que já fechei a preciana, para que o barulho do vento não entrasse pelas beiras das janelas e, no meio de todo este silêncio tremendo, a cada segundo, a cada instante, sinto cada vez mais a tua presença.

É como se algo me consumisse aos poucos por dentro o peito, é como se algo estivesse a corroer a minha alma e a deixá-la em pedaços, espalhados, por aí.

Eu já não sou nada, aquilo que me resta, foi o que tu deixaste ficar, foram restos de ti e de mim, foi uma parte de Nós da qual eu ainda não me consegui livrar.

Sou o ser que odeias, mas que no fundo amas, sou quem não te deixa partir e quem melhor te conhece e isso explica o porquê de fugires de mim, por saberes que não me enganas e por teres a consciência de que te conheço melhor do que a mim mesma.

Mas não, tu não mereces nada, não mereces o meu tempo e muito menos as minhas palavras.

Só tenho pena que o meu coração esteja de tal forma preso a ti, que não consiga arrancá-lo das tuas mãos gordas e quentes.

Eu quero ir, sem ti, quero ser feliz e esquecer-me de nós, quero viver sem pensar nos dias e nas noites que estivemos juntos, quero-me esquecer de me lembrar de ti.
Agora sou eu que em tom de socorro grito que vás e que exigo que me dês de novo o meu coração e que me deixes respirar segura, sem ti.
Dei-te tudo, transformaste-o em nada, mesmo sabendo que tinha pouco, mas que esse pouco era teu.

Agora deixa-me esquecer-te, nem que seja por umas horas, mas deixa que não pense mais em ti.
Não mereces que me auto-destrua por tua culpa e muito menos, que ainda escreva para ti.
A minha voz a partir daqui, ficou muda e por dentro, o gelo encheu-me o peito e agora vá, não me censures, esta foi a única solução lógica que arranjei para me libertar de ti ...